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Resenha (101) - Familias Homoafetivas



Sinopse:
Este livro-reportagem de Lícia Loltran é um convite à desconstrução de estereótipos sobre os relacionamentos homoafetivos. Há, na sociedade, uma distorção quanto ao público e o privado dessas relações e uma tendência em limitá-las, apenas, ao campo do sexo e da intimidade (privado) e não ao da afetividade, da busca pela felicidade e do respeito à diversidade. De forma humana e sensível, Lícia Loltran traz para o público leitor histórias de vida que ressaltam a busca pela felicidade fora dos padrões judaico-cristãos. Essas histórias também destacam as dificuldades de casais homoafetivos na legalização de suas uniões, nas adoções e, principalmente, na superação de preconceitos. Mesmo que o teor militante não se faça presente nos textos, este livro é, na verdade, uma brilhante iniciativa de humanizar casais de mulheres com filhos que fogem da heteronormatividade, mas que, para existirem, tiveram de se sujeitar a leis e à ordem estabelecida. Nesse sentido, o livro tem uma perspectiva política, pois traz situações decorrentes da própria luta dos casais homoafetivos, como a superação de barreiras familiares, sociais e institucionais. Tudo isso sem cansar o leitor, pois cada narrativa está recheada de detalhes, singularidades que, no conjunto, se tornam plurais. Na verdade, a leitura de Famílias homoafetivas: a insistência em ser feliz é mais que um convite à reflexão sobre o sentido de democracia e de respeito à diversidade em uma sociedade ainda homofóbica.


Faz um bom tempo que recebi este livro como cortesia da Autêntica e dia após dia me cobrava para começar a resenha. Comecei a ler o livro no dia seguinte em que os correios o deixaram em minha casa e terminei no mesmo dia, tão envolvente é a escrita e os relatos da jornalista Lícia Loltran.

Hoje, enquanto finalmente me debruço para colocar aqui os sentimentos e pensamentos que recebi enquanto lia o livro, corre pelo Facebook e pela internet a imagem de dois assassinos espancando um senhor de idade que resolveu tentar defender um homossexual do mesmo destino que lhe foi reservado, apanhar até morrer!

Não sabemos as motivações que levaram os dois homens a perseguir sua vítima, nem mesmo sabemos porque mudaram seu alvo para aquele que tentou defende-la. Mas é mais do que óbvio que se não fosse o envolvimento do travesti e um senhor malvestido, que tirava seu sustento do comércio ambulante, dificilmente a história teria terminado assim. Ninguém se importou, ninguém tentou ajudar nenhum dos dois, nem os covardes funcionários do metrô, nem os transeuntes que passavam por ali.

Ao ver as cenas fica difícil comentar sobre esse livro. Como falar sobre um nível ainda distante de evolução da sociedade, que seria aceitar e respeitar a opção sexual do próximo e a constituição familiar com famílias homoafetivas, quando um travesti é perseguido e só se salva porque seus agressores acharam um senhor pobre para matar no lugar?

Este não é um livro de ficção. É um documentário que tem como principal objetivo mostrar a realidade de diversas famílias espalhadas pelo Brasil, concedendo ao leitor o privilégio de conhecer pessoas que ousam desafiar a violência, a intolerância e o preconceito, não por serem rebeldes ou por prazer, mas simplesmente para exercerem seu direito de viver suas vidas como querem, respeitando as leis desse nosso 'brasilzinho'...

Lícia Loltran viajou o Brasil conhecendo casais de mulheres que optaram por desafiar a sociedade e por levar a vida que ousaram sonhar ser possível. São mulheres que dividem as responsabilidades do lar, trabalham e cuidam de filhos. Os casos são diversos, como se conheceram, a decisão de morar juntas, as lutas diárias, a aceitação da família e a mais difícil das decisões, a adoção ou a gravidez em uma família com pais do mesmo sexo.

Dividido em vários relatos, cada um retratando o cotidiano de uma família diferente, Lícia faz o leitor imergir em uma realidade que não estamos acostumados, apresentando problemas que fogem da nossa percepção, pois estamos do outro lado da sociedade, do lado opressor. Sem ouvir a voz daqueles que sofrem, jamais poderia imaginar como pode ser complexo e até mesmo perigoso andar em uma rua de mãos dadas com a pessoa amada e com meu filho.

Apesar de me ver livre de qualquer preconceito com famílias homoafetivas, não tinha uma visão ampla sobre como vivem essas pessoas e das dificuldades que precisam enfrentar. O preconceito varia de casal para casal, mas nenhuma das casas visitadas passou incólume após assumirem suas vontades e suas famílias. Esses relatos mostram a necessidade de uma reflexão profunda sobre o tema e principalmente de uma cobrança cada vez maior, da nossa parte como membros desta sociedade, para que o Estado providencie a segurança e a justiça que foi prometida e essas pessoas.

Trechinhos:
“Patrícia queria ser ‘casada’ e por isso não quis fazer o contrato de união estável. Então, decidiu entrar com o pedido de casamento civil. A resposta para o pedido veio em 13 laudas escritas pelo juiz, que definiu o que era homem e mulher mais de 15 vezes na sentença. Muito magoada com a decisão, Patrícia e Maria recorreram e, na segunda instância, o casamento foi autorizado após um parecer favorável do Ministério Público.”

“Assim que chegou, entregou a filha novamente, dessa vez a uma família de sua cidade natal. Após deixar a criança na casa, quando Lucrécia estava indo embora, ainda caminhando pela mesma rua, uma das filhas da mulher que tinha ficado com Bárbara gritou do portão da casa:
- Mainha disse que não quer só ela não. Quer você também!”

“O amor entre Lucrécia e Paula chamava a atenção por sobreviver às inúmeras situações de preconceito. No decorrer da entrevista, Lucrécia me contou que a história delas tem até trilha sonora: a canção ‘Metade da metade’, da banda Limão com Mel. Ela confidenciou que sonha com o dia do casamento, quando ela e Paula cantarão juntas essa música, escolhida pelo casal como lembrança do seu amor.”

“Carolina guardou todas as latas de leite que o filho ganhou e anotou no fundo de cada uma a data e o nome de quem presenteou. No aniversário de um ano de Enzo, as mães decidiram fazer uma homenagem a todos que lhes ajudaram nos primeiros meses de maternidade. Como tinham todas as latas datadas e com o nome de quem deu, elas personalizaram cada uma das latas com a foto de quando a pessoa foi visitar Enzo.”

Lícia Loltran
Conclusão:
É um livro que deveria fazer parte do currículo escolar de todos os adolescentes ao menos como indicação, senão como leitura obrigatória. O Brasil possui quase 200 mil órfãos de pai e mãe. Não deveríamos discutir se uma família homoafetiva pode adotar, mas sim incentivar que esses casais de homens ou mulheres adotem e ao realizarem seu sonho, também realizem o sonho de um jovem que se encontra em situação igual de sofrimento e angústia.

A situação não vai mudar tão cedo. Mas esse livro faz parte de um conjunto de obras imprescindíveis para entender e ajudar as coisas caminharem sempre na direção correta.

Autora: Lícia Loltran
Livro: Famílias Homoafetivas
Editora: Autêntica
Ano: 2016
Páginas: 188

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