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Resenha (85) - Um Poema para Bárbara


Sinopse:
Eram meados de 1776 em São João Del Rei, Minas Gerais, quando o novo ouvidor da comarca chegou à cidade vindo de Portugal. As solteiras compareceram ao sarau preparado para recepcioná-lo, e estavam todas muito entusiasmadas com o bom partido para casar, mas não Bárbara Eliodora, justamente a moça pela qual o jovem magistrado José Inácio de Alvarenga Peixoto encantou-se. Ela estava mais interessada em escrever seus poemas e em pensar sobre suas ideias um tanto avançadas para a época. Aos poucos, porém, o convívio fez brotar uma intensa paixão, e o casal descobriu ter muito mais em comum do que imaginava. Ambos poetas (ela, a primeira mulher do país), iniciaram juntos uma vida pautada em amor e sonhos de um país livre e justo, que culminou com a Inconfidência Mineira. Deixaram um legado de sangue e lutas, mas também de ideais, versos e heroísmo, que marca até hoje a história do Brasil.

Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira
Demorei bastante tempo para finalmente escrever essa resenha. Não por preguiça, mas por achar que esse livro merecia uma atenção especial e por perceber que eu precisava de tempo para processar todos os sentimentos que surgiram durante a leitura do livro. Sou um aficionado por história e me emociono todas as vezes que tenho uma rara chance de ter em mãos um livro de ficção baseado em nossa história, na história do Brasil. Sou grato por ainda existirem brasileiros que não somente são guerreiros tentando vender livros no país da ignorância, como se importam o suficiente para escrever sobre nossa gente, sobre nossa história.

Recebi o livro como cortesia da Gutenberg mas penso nele como um presente da editora, pois foi com muito prazer que li toda a obra.
Escrito em um português mais arcaico e com os diálogos respeitando e se aproximando muito do português falado na época, o livro pode ser um pouco cansativo para os leitores que, como eu, ficaram desacostumados com nossa língua depois de tantos livros com foco no público jovem ou juvenil. Mas isso nem de longe foi um problema. A forma que a autora escreve e os diálogos repletos de ‘tus e vosmecês’  nos transporta com facilidade para outra época e outra cultura, o que é delicioso principalmente por se tratar do Brasil e de lugares que conhecemos ao menos de nome.

José Inácio de Alvarenga Peixoto
O trabalho de pesquisa também foi bem feito. Não sou um especialista em história, mas pelo pouco que conheço percebi que os fatos mostrados no livro seguem, em sua maioria, a história original do Brasil, Minas Gerais e da Inconfidência.  A autora também acertou ao romantizar a história de um dos mais adorados e famosos inconfidentes e de sua célebre esposa. Suas personalidades condizem com o historicamente aceitável pelos acadêmicos que estudam nossa história.

Outro detalhe que não posso deixar de citar, que me surpreendeu e ao mesmo tempo me alegrou muito foi a ênfase dada a poesia em todos os capítulos do livro. Sabe-se que a poesia era moda na época e quase todas as pessoas eram poetas, ou aspirantes a poetas, seja no Brasil ou em Portugal e a autora não deixou de retratar muitos dos poemas dos protagonistas como também de nos presentear, capitulo a capitulo, com um poema famoso escolhido por ela. História, bom texto, poema e livro nacional tudo junto só poderia mesmo resultar em uma obra excelente.

Bandeira de Minas Gerais que assumiu
o símbolo dos inconfidentes.
Falando um pouco do livro, vamos acompanhar principalmente a história de José Inácio de Alvarenga Peixoto, poeta, advogado, senador, ouvidor, juiz e inconfidente. Muito se discute sobre os personagens que quase realizaram um levante contra Portugal e muitos dos dados são de pouca garantia, mas são poucas as figuras que inspiram tanta admiração e divertimento quanto a do Coronel Alvarenga.

Conhecemos sua personalidade única, boêmia e poética, sempre pronto para se divertir ao mesmo tempo em que não hesitaria em trocar socos por sua honra. Um homem de sua época, bem nascido e rico. Sua história, desde o ingresso na faculdade de Coimbra até o regresso ao Brasil para assumir o cargo de ouvidor é retratada no livro, principalmente na primeira de 4 partes sob o qual é escrito.

Na segunda e terceira parte vamos acompanhar o amor arrebatador que acometeu José de Alvarenga e iremos conhecer sua esposa, D. Bárbara Eliodora, uma moça a frente de sua época e a única que foi capaz de fisgar de vez o coronel. São vários capítulos de muito romance e poesia, enquanto pouco a pouco, a revolta começa a ser estabelecida em todo o estado de Minas Gerais, se espalhando entre os quatro cantos do Brasil. De forma bastante fluida acompanhamos as duas histórias se desenrolando, a do jovem casal e a do país.

Tiradentes, líder da revolta e único a
ser condenado a morte.
A quarta parte se aprofunda mais e mais no episodio que seria conhecida depois como Inconfidência Mineira, com bastante fidelidade histórica e um bom aprofundamento de todos os principais personagens deste que seria o começo do fim da escravidão brasileira com relação a metrópole portuguesa.  Figuras ilustres como a Rainha Maria I, O Marques de Pombal, Tiradentes e Aleijadinho estão lá, personagens de uma história pouco contada sobre heróis e vilões pouco conhecidos de nossa pátria, retratando fatos que moldaram o país e que o atrasaram em quase um século seu desenvolvimento, mas que continua sendo somente uma história vagamente lembrada nas escolas por ai, exceto por livros como esse, que são muito mais do que um romance, são uma homenagem a nossa gente e a nossa história.
 
"Jornada de Mártires" de Antonio Parreiras
Adorei o tema que fala sobre a Inconfidência e também a forma como a autora retratou o casal protagonista do livro. A ênfase dada aos poemas é outro ponto positivo da obra e a meu ver o toque especial do texto, além é claro da escrita em um português um pouco mais autentico que é deliciosa. Sem contar ainda as descrições de lugares que não existem mais ou que permanecem no seio de grandes cidades, imponentes, repletos de história e importância.

Não gostei de Tiradentes, ou melhor, do pouco que ele aparece na história. Jovens de todo o país sabem mais quem ele é do que sobre o movimento que ele liderou e mesmo assim ele quase não é retratado no livro. Também fala-se pouco sobre a relação Brasil Portugal e sobre a soberana Maria I, governante na época.


Trechinhos:

“A verdade é que, terminado o romance com Inácio, Anna Zamperini não hesitou em correr para os braços do filho do Marquês de Pombal, o conde de Oieras. Completamente apaixonado, o conde gastou com ela o que tinha e o que não tinha. Temendo pelo futuro do filho e do seu próprio, o autoritário marques acabou por expulsar a Zamperini de Portugal. E lá se foi a italiana, deixando para trás um rastro de corações destroçados.”

“Em completo desespero, dizia-se D. José ter perguntado ao experiente funcionário: ‘E agora, o que podemos fazer Senhor Secretário?’. – O Marques de Pombal respondeu, calmamente e sem titubear: ‘Agora, Majestade, vamos enterrar os mortos e cuidar dos vivos’.

“- Ora, Maria Alice, poupe-me – respondeu Bárbara, ríspida. – Eu tenho lá alguma coisa a ver por quem ele se interessou ou não? Ele que corteje quem ele quiser, afinal, vou me casar, se Deu quiser, muito em breve! Se ele pensa que vai me impressionar com esses bilhetinhos está muito enganado. Eu é que não vou cair na lábia dele. Ele deve agora estar rindo da minha cara!”

“- Senhorita Bárbara – disse, simulando formalidade, com ar brincalhão – Por ora, saber que poderei desfrutar de algum mínimo momento que seja de tua companhia, ainda que apenas pelos laços de amizade, já me faz o homem mais venturoso da terra.”

“Inácio, assentiu com a cabeça, sem tirar os olhos daquelas folhas. O padre acrescentou:
- Creio que tu já ouviste falar na Maçonaria. . .
- Que estudante brasileiro em Coimbra não ouviu, meu caro? – respondeu ironicamente Inácio, sentando-se para ler o documento com mais calma.”

Monica Sifuentes

Conclusão:
O romance é delicioso de acompanhar e valeu cada página, cada poema, cada personagem e cada lugar que visitei através da escrita de Mônica Sifuentes. Visitar o Minas Gerais inconfidente foi uma das melhores viagens literárias que fiz esse ano e conhecer os personagens desse pedaço de nossa história me ajudou a lembrar do que é feito nosso país e do que pode ser capaz a nossa gente. Torço para que a autora encontre tempo no eu trabalho como desembargadora do TRF e  continue escrevendo e nos presenteando com mais histórias deliciosas como essa.

Autora: Monica Sifuentes
Livro: Um Poema par Bárbara
Editora: Gutenberg
Ano: 2015
Páginas: 432
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