Lado a lado com a monumentalidade irrecusável dos livros e dos manuscritos, dispostos em formas discursivas e materiais bem conhecidas, a materialidade fragmentária e acidental dos arquivos se impõe, fornecendo muito da matéria a partir da qual se escreve a história.
Nos fragmentos do acervo documental de Oliveira Vianna, Giselle Venancio encontrou máscara e espelho. A máscara é aquela de uma subjetividade que não se pensava irrisória; o espelho, o de um homem público, cujo reflexo deveria, então, superar o seu próprio tempo.
Para que a máscara e o espelho de Vianna se tornassem visíveis, Giselle Venancio procedeu a uma rigorosa arqueologia desses resíduos. No seu modo de classificação, desvendou o código de sentido único, em forma de autobiografia, que lhes fora impresso. Atribuiu, com isso, densidade sociológica e histórica à suposta naturalidade do gesto organizador. Transformou o arquivo em campo de interrogação sobre o controle exercido na construção tensa, sob a força do nome próprio, de uma figura engrandecida de homem público em meio à trivialidade das relações da vida privada.
E o que diz “o morto” na letra morta do arquivo? A resposta a esta velha pergunta encerra, neste livro, um modo singular de história intelectual, que faz com que Oliveira Vianna mostre um rosto no espelho do seu tempo. E, no mesmo movimento, faz com que seja revelada a sua máscara, que nos chega, hoje, como identidade autoral de uma obra lavrada em grandes livros e tramada em pequenos papéis.
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