
No intrigante filme
Dogville, do dinamarquês Lars Von Trier, habitantes de uma cidade à beira do
fim do mundo se comportam como ratinhos de laboratório. O diretor nos faz ver
quão ridículos somos quando vistos do alto. Em Abandonado, Vinícius Pinheiro
leva seus personagens para reinar na estonteante São Paulo, cidade que
centrifuga tudo o que há de bom e ruim numa força avassaladora. Todos tentam
dar o melhor de si, mas parecem ridículos. Tentam se levar a sério, mas
percebem que o mundo está se tornando uma grande piada. Somos nós lutando
para sobreviver e viver nas poucas horas vagas, enfrentando dificuldades
financeiras, chefes carrascos, a mediocridade e o imediatismo que nos impedem
de ser um pouquinho original. Tudo é produção, tudo é pra ontem, tudo é
insumo. Nas pinceladas das palavras, Vinícius vai desenhando momentos de
ironia, sarcasmo, e nos faz rir das próprias desgraças, das próprias
fragilidades. Assim, nos sentimos mais humanos quando viramos a última
página. Faz lembrar os versos de Fernando Pessoa em Poema em linha reta:
“Ora, então são todos semideuses? Onde há gente neste mundo?”
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