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Resenha (69) - As Doze Tribos de Hattie

As Doze Tribos de Hattie

Sinopse:
Em 1923, aos quinze anos, Hattie Shepherd deixa a Geórgia para se estabelecer na Filadélfia, na esperança de uma vida melhor. Mas se casa com um homem que só lhe traz desgosto e observa indefesa quando seu casal de gêmeos sucumbe a uma doença que poderia ter sido evitada com alguns níqueis. Hattie dá à luz outras nove crianças, que cria com coragem e fervor, mas sem a ternura pela qual todos anseiam. Em lugar disso, assume o compromisso de preparar os filhos para as calamitosas dificuldades que certamente enfrentarão e de ensiná-los a encarar um mundo que não os amará nem será gentil. Contadas em doze diferentes narrativas, essas vidas formam a história da coragem monumental de uma mãe e da trajetória de uma família.
Belo e inquietante, o primeiro romance de Ayana Mathis é assombroso do início ao fim — épico, angustiante, imprevisível, vibrante e cheio de vida. Uma história envolvente e cativante, um retrato marcante de uma luta tenaz diante de adversidades insuperáveis e uma celebração da resiliência do espírito humano. As doze tribos de Hattie é um romance de estreia de rara maturidade.
  
Comecei a ler As Doze Tribos de Hattie sem nenhuma pretensão. Apenas gostei do título e como tinha um tempinho disponível para ler comecei o livro e acabei gostando bastante, conseguiu me prender até o final.

Os personagens foram bem desenvolvidos e apesar de terem pequenas histórias no livro conseguimos nos identificar com eles e definir suas personalidades. Repleto de fatos racistas e relatos sobre a vida dura para os negros que moravam nos Estados Unidos na época em que o livro foi ambientado, somos transportados a outra época, como uma viagem no tempo onde a cada momento escolhemos alguém para observar. Essa dinâmica do livro, que não me agradava no começo, se mostrou no final o ponto forte da obra de Ayana Mathis.

O livro já começa com um relato marcante da jovem Hattie, fugida da violenta e racista sociedade da Geórgia e que recém ganhou gêmeos. Como se a vida já não fosse difícil o bastante, ela tem de enfrentar a doença de seus filhos que ainda bebês, contraem pneumonia. Emocionante e marcante, acompanhamos a luta da jovem mãe de 17 anos enquanto tenta se adaptar a um novo mundo e ao mesmo tempo salvar a vida de seus filhos, mas esse é só o começo de sua jornada.

Dividido em vários contos sobre os filhos de Hattie, o livro é um apanhado de histórias sem ligação, porém todas focadas no ponto central que é a matriarca da família. Com muita sensibilidade e profundidade, a cada história conseguimos entender como foi criação dessas pessoas e o quanto ela influenciou na sua vida adulta. Também aprendemos muito sobre a protagonista enquanto acompanhamos a jornada de seus filhos.

Apesar de Hattie não protagonizar a maioria das histórias, ela sempre é a personagem que mais ganha corpo e cada passagem. Suas dificuldades, suas frustrações, a luta por comida, roupa e dignidade e a falta de compreensão dos filhos são fatos do cotidiano para ela, que nada mais faz do que levar a vida e criar sua prole com a rigidez e truculência que só ouvimos nas histórias de nossos avós, em uma época que mal conseguimos imaginar como era crescer e sobreviver.
 
Típica Família negra da época. Estado de semi-pobreza.
O que mais gostei do livro foi como a autora nos insere dentro do cenário sem nenhuma dificuldade. Apesar de não serem histórias lineares ou sobre os mesmos personagens, não nos perdemos durante a leitura e como comentei, me senti um observador externo que resolveu analisar aquela família e ver como se saiam. A sensibilidade da autora para com as emoções humanas é outro ponto digno de nota.

O livro me surpreendeu, porém continuo não gostando desse modelo escolhido pela autora, onde junta várias história diferentes para desenvolver seus personagens. Funcionou bem pois o foco era falar sobre Hattie, mas há tanto sobre os outros personagens que não foi contado e eu queria saber que fico com a sensação de que ela deveria lançar um livro para cada um.


Trechinhos:

“O que eu posso fazer? – Hattie olhou para a mulher através do vapor. – Por favor, diga-me o que fazer. A vizinha encontrou um tubo de vidro com bulbo de borracha na ponta; usou aquilo para puxar muco do nariz e da boca dos bebês. Ajoelhou-se na frente de Hattie, quase aos prantos. – Meu Deus, meu Senhor, nos ajude. A mulher sugava muco e rezava.”

“Six mantinha seu constante desconforto em segredo, não por estoicismo e coragem, mas por amargura. A dor e a fragilidade o tornavam especial – especialmente maltratado e especialmente indignado – e excepcional porque tinha sofrido. Sua dor era o seu bem mais precioso e secreto, e Six o guardava com ferocidade, como se fosse uma joia roubada de um cadáver.”

“Chegou à sala no momento em que Alice e Sillups trocavam empurrões. As crianças correram para ele assim que apareceu: Billups empurrara Alice. Quem estava tomando conta de Franklin? Ele tinha caído de novo porque ninguém estava prestando atenção. E o jantar? E será que August sabia que Floyd tinha saído para ir a algum lugar apesar de ser o mais velho e o maior e devesse estar tomando conta da gente? August olhava de um para outro. Alice, com a voz mais alta que os outros gritou: - Onde está a mamãe?”

“Bell puxou um fio na colcha da cama. Tossiu. Como minha mãe era austera e inabalável, agitada e insondável. As irmãs de Bell costumavam dizer que Bell tinha o temperamento de Hattie – reservada e de pavio curto. Nunca teve medo de ninguém coo tinha medo da mãe, nunca se sentira tão furiosa com alguém e nunca desejara tanto que alguém a amasse quanto queria o amor de Hattie. Mas Hattie estava sempre tão distante, como uma praia se afastando à medida que o navio se distancia no mar.”

Ayana Mathis
Conclusão:
As Doze Tribos de Hattie é um livro sensível e emocionante. Fala sobre as dificuldades da vida, sobre o ser humano e em como cada um encara de forma diferente sua criação e os desafios que encontram durante sua jornada. Fala sobre tempos passados, porém ainda atuais. E fala sobretudo sobre o amor de mãe, e o quanto é difícil amar e ser mãe ao mesmo tempo. Gostei muito do livro e recomendo!


Autor: Ayana Mathis
Livro: As Doze Tribos de Hattie (The Twelve Tribes of Hattie)
Editora: Intrínseca (Random House)
Ano: 2014 (2012)
Páginas: 224

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