Publicado em Zero Hora
Sam Houser ainda era uma criança quando o pai, dono de um sofisticado bar de Londres, o apresentou a Dizzy Gillespie. O músico, um dos grandes trompetistas do jazz, perguntou ao garoto o que ele gostaria de ser quando crescesse. A resposta do futuro cérebro por trás do maior simulador de crimes do mundo não poderia ter sido mais premonitória: ladrão de banco.
A passagem está em O Grande Fora da Lei – A Origem do GTA, extensa reportagem do jornalista norte-americano David Kushner sobre o mais controverso, popular e bem-sucedido jogo de videogame da história. Lançado no Brasil pela Darkside Books, o livro mergulha no caos em que orbita Houser desde sua chegada aos Estados Unidos, aos 20 e poucos anos, disposto a forçar limites dentro e fora da indústria do entretenimento.
O ponto de partida de GTA (abreviatura de Grand Theft Auto, O Grande Ladrão de Carros, numatradução literal) é o caso de amor de Houser e seu irmão, Dan, pelo cinema e a música norte-americanos. Criados sob o rígido sistema educacional britânico, nada os atraía mais que os filmes de gângsteres e o hip hop, que glamourizavam a contravenção e cultuavam o dinheiro, o sexo e a violência. Usando uma mídia ainda em desenvolvimento e levada pouco a sério, eles misturariam tudo isso com uma dose extra de humor negro.
– GTA é uma carta de amor aos EUA – define Kushner, em entrevista por e-mail. – Seus criadores cresceram imersos na cultura pop americana, e o jogo foi a maneira que encontraram para celebrar e satirizar o país.
Deu certo, mas também deu errado. Para além da máquina bem azeitada de imprimir dinheiro, GTA foi responsável por amadurecer à forceps a opinião pública a respeito dos videogames. De repente, os jogos eletrônicos passaram a demandar a mesma atenção que o cinema, a música e a literatura – o que significou, por exemplo, serem culpados por cada tragédia envolvendo crianças e adolescentes que decidem matar os coleguinhas na escola.
Desde o primeiro título, lançado em 1997, GTA é um campeão de processos e está sempre no banco dos réus. O que para alguns seria má publicidade, para os irmãos Houser transformou-se no cartão de visita de sua produtora, a Rockstar. Controvérsia é, com orgulho, o sobrenome deles.
– Mas controvérsia sozinha não vende – Kushner pondera. – GTA desafiou nossos preconceitos sobre o que videogames deveriam ser, inovando e influenciando no âmbito da arte. É por isso que continuaremos a falar sobre ele por muito tempo.
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