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Artigos - Clube do Livro Virtual

PUBLICADO EM 06/10/13 - 03h00
Quando a NBC anunciou recentemente que o programa "Today" faria um clube do livro com grupos de discussão online, achei que a ideia era boa.

Durante muito tempo eu romantizei o clube do livro de carne e osso do qual fazia parte em Manhattan, pois ele me fazia sentir que um grupo importante de pessoas me valorizava. Quando eu descrevia membros do clube a outras pessoas, falava sobre seus pontos positivos e suas conquistas: uma ex-banqueira brilhante, a antiga autora de discursos para um vice-presidente e uma intelectual poderosa como seguidores no mundo todo.
Entretanto, a verdade é que éramos um bando de fofoqueiras que (às vezes) liam o mesmo livro, discutiam superficialmente (e da forma mais erudita, imaginávamos) para, em seguida, começarmos a falar sobre nosso assunto predileto, nós mesmas. Casamentos falidos, filhos bem sucedidos e reformas na cozinha eram assuntos tão prováveis quanto as nuances de "Daniel Deronda".
Para sem sincera, às vezes havia mais ossos que carne em nossas reuniões. No inverno do ano passado, um encontro especialmente ruim em que discutimos se deveríamos deixar nossa prática de alternar livros de ficção clássicos e contemporâneos terminou com uma imprecação dirigida a mim. Naquela noite, saí do encontro dizendo a quem pudesse ouvir que nunca mais voltaria.
Durante muito tempo duvidei de clubes do livro online, acreditando que eles não possuíam a intimidade e a espontaneidade dos encontros pessoais, tornando-se um terreno fértil para solitários quietos que temiam o contato visual e a proximidade física. Hoje em dia, acredito que a intimidade dos clubes do livro são supervalorizadas e, dependendo de quem esteja do outro lado, o contato visual pode ser aterrorizante.
Eu estou longe de ser solitária. Para Eileen Mendell, de Ventnor, Nova Jersey, encontros de clubes do livro muitas vezes se assemelham a sessões explosivas de aconselhamento familiar, onde cada infração se torna um indício de uma falha de caráter profunda.
"Tenho diferenças de personalidade com quase todo mundo e, normalmente, sou uma pessoa alegre, amigável e risonha, de forma que o problema está justamente no clube do livro", afirmou Mendell. "Há muitas mulheres que falam sem parar dos próprios filhos, e não querem saber dos filhos de mais ninguém."
Ainda assim, Mendell não gostou da sugestão de que poderia se dar melhor em um clube online. "Parece tão frio", afirmou. "Prefiro sofrer nas reuniões do que não ver a cara de ninguém. Talvez eu goste de ser grosseirona e não queira abrir mão da minha rabugice".
Porém, muitas pessoas passaram a ver os clubes do livro online como um esquema ideal. Felicia Day, de 34 anos, uma atriz que teve destaque na temporada de 2003 da série "Buffy, a Caça Vampiros", fundou o Vaginal Fantasy Hangout, um clube do livro virtual dedicado a romances com um toque paranormal. O clube, que começou a cerca de um ano e meio é aberto apenas a mulheres (até onde Day saiba), e é patrocinado pelo Goodreads, um site que cataloga livros e ajuda os leitores a formarem grupos de leitura.
O Vaginal Fantasy Hangout, liderado por Day e outras três apresentadoras, possui quase 10.000 membros e é organizado em torno de discussões em vídeo ao vivo sobre dois livros. Enquanto isso, os membros batem papo pela internet, o que, segundo Day, ajuda a dar coesão ao grupo.
"Eu viajo muito e o componente virtual faz parte da minha vida social", afirmou. "Há muitas maneiras de interagir, já que todo mundo sempre está online. Isso é o que a internet faz de melhor: ela conecta pessoas que tem paixão por alguma coisa".
Jessica Coen, de 33 anos, afirmou que descobriu que encontros literários funcionam melhor na teoria que na prática. Ela se juntou a um clube do livro há alguns anos e leu cuidadosamente os dois primeiros livros, mas não pôde ir a nenhuma das reuniões.
"Esse foi o fim da minha experiência com o clube de leitura e acho que esse é o problema dos clubes do livro em geral. É por isso que os grupos online estão sendo um sucesso agora", afirmou Coen, que é editora-chefe do Jezebel, o popular blog de cultura. "As pessoas são ocupadas e mesmo que separem tempo para fazer isso e estejam ansiosas para discutir sobre o livro, nem sempre dá para ir até lá".
Durante o verão de 2012, o Jezebel realizou o próprio clube do livro, discutindo "Garota Exemplar", de Gillian Flynn. Coen afirmou que o clube foi um grande sucesso e provavelmente seria repetido".
Chris O'Connor, agente imobiliário na área de Tampa Bay, Flórida, afirmou que se converteu aos clubes virtuais depois que a esposa o deixou há mais de uma década.
"Para lidar com a depressão e todo o resto, tentei formar um clube do livro na região, mas não deu certo", afirmou O'Connor, de 44 anos.
Ele postou anúncios em busca de recrutas, esperando encontrar parceiros de leitura que quisessem beber vinho e falar sobre os textos. Ao invés disso, boa parte das pessoas que responderam era gente "desagradável". Foi aí que O'Connor fundou o clube do livro online Booktalk, que funciona desde 2002.
O grupo tem cerca de 8.000 membros. As seleções literárias são escalonadas de forma que uma nova discussão sobre um livro de ficção e outro de não ficção comece a um intervalo de poucas semanas. As escolhas mais recentes foram "Retrato do Artista Quando Jovem", de James Joyce e "A Magia da Realidade", de Richard Dawkins.
O'Connor acredita que seu projeto foi bem sucedido porque as pessoas recebem opiniões de uma comunidade ampla.
"Ao recorrer a um público maior", afirmou, "você lê livros que talvez nunca decidisse escolher se estivesse no mesmo grupo de cinco ou seis pessoas que se reúnem para conversar e tomar café uma vez por mês".
Assim como Coen, O'Connor gosta de não estar preso a uma agenda fixa. "Se tivéssemos que fazer um clube fechado, acabaria cancelando metade das reuniões por causa do meu trabalho e isso seria desapontador", afirmou. "Mas se eu terminar o trabalho às 20h30, posso entrar no Booktalk e responder uma pessoa que fez uma pergunta dez horas antes".
Naturalmente, clubes virtuais e de carne e osso podem ser complementares. Jaclyn Levin, produtora sênior responsável por livros e autores no "Today", afirmou que o clube do livro do programa não tinha o objetivo de substituir os encontros regulares. Na verdade, ela afirmou que acaba de entrar para um clube do livro presencial e que está animada para participar.

Todavia, para mim e para outras pessoas que deixaram os clubes do livro, a idéia de encontrar companhia literária na internet é nossa única esperança.


Aqui, infelizmente, clubes de livro  nunca foram uma realidade. Mas mais difícil do que criar um clube de livro se tornou simplesmente encontrar alguém que leia livros, ou pelo menos que leiam algum livro que não e vendido na primeira prateleira da saraiva. Dentro desse cenário o artigo do NYT tem muito a ver com os leitores brasileiros que querem manter uma boa historia viva por mais alguns dias.

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