Além dos mediadores da casa e organizadores do evento,
Sérgio Pavarini (Pavablog) e Cássia Carrenho (Publishnews) contamos ainda com a
presença de Beatriz Simoni, Merchandising da Kobo para o Brasil e Portugal e
Tiago Ferro, idealizador e editor da editora e-galáxia.
O tema, como fica óbvio devido aos convidados, foi o livro
digital. Falamos sobre os desafios do mercado de e-books, sobre os planos da
Kobo e da e-galáxia e é claro, sobre os preços praticados no mercado de livros
digitais. Porém, este artigo não vai tratar do e-book e sim de uma proposta
lançada por Sérgio Pavarini, logo na abertura do encontro.
Após comentar sobre as agressões que alguns gêneros
literários recebem de críticos Brasil afora e o anúncio de que o congresso recém-eleito
é o mais conservador desde 1964, ele levanta o fato de que o leitor atual não
se aprimora e não busca obras com maior profundidade sobre determinados
assuntos, como por exemplo, política. E que é quase incapaz de entender o que
significa esse novo congresso para o país e para o povo brasileiro. Em seguida,
lança a seguinte pergunta aos blogueiros que participaram do encontro; O que
podemos fazer para aprimorar o conhecimento do leitor e incentivar leituras de
maior calibre e que incentivem a ampliação do conhecimento?
A reação foi imediata e mais do que esperada. Composto na
maioria, senão na totalidade, por pessoas que são adeptos daquilo que nossa
falsa intelligentsia gosta de chamar
de subliteratura, e me incluo neste grupo de pessoas, os presentes saíram em
defesa dos livros mais lidos na atualidade, como os livros de fantasia e
chic-lit, alegando que muitos deles têm conteúdo político, social e histórico.
A conclusão que mais se aproximou de um consenso foi a de que qualquer leitura
é valida, pois todo livro tem algo a ensinar se o leitor prestar atenção e for
perspicaz.
Quanto a isso concordo, porém tenho uma ressalva. Todo livro
pode, não necessariamente irá, acrescentar algum conhecimento de vida ao
leitor, pois o simples fato de ler não significa que este vai absorver a
mensagem. Um livro baseado em fatos reais da história, como por exemplo os
livros de Bernard Cornwell, não garante que o leitor está assimilando o
conteúdo e associando aos seus próprios conhecimentos aquilo que ele está lendo
e que é verídico. Para que isso
aconteça, ele teria que saber de antemão quem eram os saxões, onde fica a
Inglaterra, quem eram os vikings e também, que ocorreram batalhas e guerras
para formar o que hoje chamamos de Estado Inglês, ou seja, para aprimorar seus
conhecimentos de história, se faz necessário que você conheça o básico da
história. Ninguém é capaz de compreender matemática avançada sem antes ter
aprendido as operações básicas de somar, subtrair, dividir e multiplicar.
Partindo deste principio, podemos ver que os leitores
coxinhas que só leem livros premiados têm razão quando afirmam que os livros
que são lidos hoje pela maioria dos jovens não acrescenta conhecimento prático
da vida real. Estas obras têm o potencial de fazer com que o leitor reflita,
porém se o leitor não for capaz de gerar dúvidas enquanto lê não haverá o
questionamento e não haverá reflexão. Uma história, por melhor que esta seja
não será capaz de responder as perguntas se essas não forem as perguntas
corretas.
Vejamos um exemplo. Pude discutir Jogos Vorazes com três
pessoas próximas que não leem, ou melhor, não têm o costume de ler, mas que
acompanharam a trilogia devido à exposição, sendo uma delas somente através dos
filmes. Todas as três adoraram a história e viraram fãs e defensores da obra de
Suzanne Collins.
Discutindo a história com eles em momentos separados,
percebi o quão raro é o leitor capaz de mesclar a ficção com o mundo real,
chegando a um denominador comum que vai levá-lo a refletir sobre sua vida e a
sociedade em que vive. Meu amigo que somente está acompanhando os filmes não
foi capaz de perceber nenhuma mensagem política na história de Jogos Vorazes.
Chegou ao ponto de compará-los com jogos mortais, ou seja, amante da violência
e do terror, só foi capaz de enxergar aquilo que lhe agrada e nada mais.
É macaquinho, não está fácil não! |
O segundo percebeu o óbvio foco político do livro, porém não
conseguiu ver a ligação que os jogos têm com a história da humanidade, como por
exemplo, o império romano. Mesmo quando comparei Panem a Roma, as colônias às
nações conquistadas e escravizadas e os jogos com o coliseu, ele ainda insistiu
que não tinha muita coisa a ver. Não sei se a autora se inspirou na antiguidade
para escrever, mas é muito parecido o sistema de ambos no que diz respeito ao
governo, escravidão e demonstração de força.
O terceiro se saiu um pouco melhor. Discutimos sobre as
lições políticas que podem ser tiradas das páginas do livro e comparamos com
vários momentos da história, porém ele afirmou que o ser humano evoluiu e isso
não tem como acontecer na sociedade atual. Não preciso dizer que esse meu amigo
não deve acompanhar o que ocorre no mundo. Nações como Coréia do Norte e alguns
países islâmicos tem um sistema parecido com o de Panem. Só não jogam seus
cidadãos na arena para se matarem, mas o sistema extrativista e próximo à
escravidão é vigente e aceito pela população. Não há garantias que após uma
tragédia mundial onde o conhecimento é perdido e a violência volta a ser lei,
não iríamos voltar a Roma Antiga com gladiadores escravos lutando por suas
vidas para o deleite dos vencedores. A história já provou que tem a mania de se
repetir, mas também provou que temos a incapacidade de prever as tragédias
anunciadas.
A conclusão que tirei dessas conversas foi a de que os
jovens, em especial os brasileiros, não carecem de boas opções literárias ou
incentivos para se aproximarem de obras que favoreçam o intelecto. Precisamos na
verdade ensina-los a pensar, a refletir e filosofar antes de apresentarmos
ideias e propostas que fogem da compreensão deles. É preciso ensinar o 1+1
literário para que essas pessoas possam não somente acessar o conhecimento, mas
compreendê-lo. Os blogs, assim como qualquer outra mídia formadora de opinião
têm o dever de incentivar o conhecimento e buscar a evolução pessoal de seus leitores,
mas o caminho é árduo, complexo e confuso e o dia-a-dia mostra que estamos
propondo iniciar uma guerra digna do conto de David contra Golias.
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