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Resenha (55) - A Bibliotecária de Auschwitz

A Bibliotecária de Auschwitz

Sinopse:
Muitas histórias do horror e sofrimento testemunhados dentro dos campos de concentração nazistas são contadas e recontadas, já estão gravadas e arquivadas. É difícil, nesses relatos, encontrar atos de esperança e força diante de todo o mal registrado durante o Holocausto. A Bibliotecária de Auschwitz é um livro diferente. É uma história verdadeira e cheia de detalhes a respeito de um professor judeu, Fredy Hirsh, que criou uma escola secreta dentro do bloco 31, no campo de concentração de Auschwitz, dedicando-se a lecionar para cerca de 500 crianças. Criou também uma biblioteca de poucos volumes com a ajuda de Dita Dorachova, uma menina judia de 14 anos que se arriscava para manter viva a esperança trazida pelo conhecimento e escondia os livros embaixo do vestido. É um registro de uma época sofrida da História, mas que também mostra a coragem de pessoas que não se renderam ao terror e se mantiveram firmes usando os livros como “arma”.

Dita em sua juventude.
Muito se fala sobre Auschwitz e a internet é recheada de documentos, livros, contos e qualquer outro material que possa interessar ao leitor. Por isso você pode estar se perguntando, o que este livro tem de diferente?

Atonio Iturbe não escreveu um documentário. Não é um livro de história explicando o que acontecia nos campos de concentração e quais as técnicas que os nazistas empregavam para matar. Também não é um conto que enaltece a libertação propagada pelas tropas aliadas, como é comum encontrar por ai. Tudo isso é abordado no livro, é claro, mas o mais importante para o autor foi contar a história vista de dentro, por personagens reais que vivenciaram na pele o dia-a-dia da maior máquina de matar que já existiu.

A escrita é simples e narrada pela visão de diversos personagens, mas a protagonista é Dita Dorachova, uma jovem Checa de 14 anos, residente de Auschwitz e uma garota de sorte. Sorte porque ela foi enviada para o Bloco 31, único bloco residencial do complexo, ou seja, ela tem sorte porque não morreu assim que colocou os pés em Auschwitz e como que por um milagre não foi direcionada para as câmaras de gás como centenas de milhares de outros jovens.

Com muitos detalhes sobre o campo e sobre a vida das pessoas que trabalhavam ou eram prisioneiras no inferno chamado Auschwitz, Iturbe escreveu um romance único, emocionante, tocante e por vezes chocante, privilegiado pelo contato com a própria protagonista do livro que ainda hoje vive em Israel.

Cena rara com crianças prisioneiras. A maior parte era
assassinada assim que chegava ao campo.
Logo após chegar ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau,  Dita recebe uma tarefa bastante incomum para um local onde as pessoas não têm onde dormir, comer ou fazer suas necessidades. Ela tem o desafio de cuidar e administrar a biblioteca do Bloco 31, que constitui incríveis 8 livros impressos e mais alguns vivos, ou seja, narrados por pessoas que praticamente decoraram as obras.
Não só a biblioteca é algo quase sobrenatural quando pensamos nas precariedade do local, como também há uma escola, onde as 500 crianças do bloco tomam aulas utilizando esses poucos livros como apoio.

Milhares de judeus Húngaros chegando à Auschwitz.
Quase todos foram mortos no mesmo dia. 
Dita assume sua tarefa como se o simples fato de cuidar de preciosidades de papel como seus livros fossem fazer com que a Alemanha perdesse a guerra. De certa forma, ela não está tão longe da verdade, pois ao menos neste bloco, os nazistas são derrotas diante da vontade e teimosia dos prisioneiros em continuar, em viver, em tentarem ser melhores sem se importar com as adversidades ou com a força do inimigo.

Em paralelo o autor nos presenteia com algumas outras histórias e alguns outros personagens, que entram e saem do livro. Essas histórias ajudam a moldar em nossa mente o cenário onde todo o drama da vida se passa, pois deixamos de conhecer somente o local como também as pessoas com quem nossa heroína conviveu.

De ponta a ponta acompanhamos Dita em sua jornada até a libertação. Suas dores, os dramas do dia a dia, fatos desconhecidos dos campos e suas pequenas, porém importantes vitórias contra o medo e a morte. Ela perdeu tudo, mas o tudo não basta, há de perder muito até que finalmente chegue a seus ouvidos frases ditas no idioma inglês, mas que no dia em que as ouviu, deve ter soado como trombetas de anjos.

Dita Kraus em evento que participou em 2007.
O que mais gostei no livro foi de Dita. Essa mulher não pode existir. Sua força e espírito são os de uma pessoa evoluída. E pensar que hoje essa heroína é uma simpática senhora que ainda luta para que o mundo não esqueça as atrocidades do holocausto, sem fraquejar, sem diminuir o ritmo, sem desistir. Foi um prazer conhecer Dita Kraus!

Não gostei de algumas ferramentas que o autor utilizou para dramatizar o livro. Não é nada demais, mas citar Anne Frank por exemplo foi desnecessário, um tentativa de comover e aumentar a dimensão do que foi Auschwitz nos lembrando de outra história triste no mesmo local. Porém, acho que isso é mais gosto pessoal do que qualquer outra coisa...

Antonio G. Iturbe
Trechinhos:

“ – Inspeção – sussurra o Obersharfuhrer.
Os SS que o acompanham repetem sua ordem e a amplificam, até transformarem-na num grito que penetra os tímpanos dos prisioneiros. Dita, no grupo das garotinhas, sente um calafrio, aperta os braços contra o corpo e ouve os livros roçando em suas costelas. Se a pegarem com eles, será o fim de tudo.
- Não seria justo... – murmura.”

“A menina tinha o vínculo que une algumas pessoas aos livros. Uma cumplicidade que ele próprio não possuía, por ser ativo demais para se deixar fisgar por linhas e linhas de impressas em páginas. Fredy preferia a ação, o exercício, as canções, o discurso. . . Mas se deu conta de que Dita tinha essa empatia que faz com que certas pessoas transformem um punhado de folhas num mundo inteiro só para elas.”

“Seu pai está à sua espera, como toda segunda, quarta e sexta em que não chove, na lateral do barracão. Ali desdobra uma velha manta xadrez repleta de rasgos, mas que ele estende da maneira mais graciosa possível para que os dois se sentem. Essa é a escola de Dita. Quando ela chega, seu pai já trançou um mapa-múndi no barro com um pau. É custoso reconhecer o mundo desenhado na lama de Auschwitz.”

“Dita ergue a cabeça, e seu rosto, suas mãos e seu vestido ficam salpicados de minúsculos flocos cinzentos que se desfazem entre os dedos. As habitantes do bloco 31 saem para vr o que há.
- O que está acontecendo? – pergunta uma menina assustada.
- Não tenham medo – diz Miriam Edelstein. – São nossos amigos do transporte de setembro. Eles estão voltando.


Conclusão:
O tema pode ser meio batido para alguns, mas a humanidade  jamais poderá esquecer os erros cometidos durante a segunda-guerra mundial e também as atrocidades cometidas logo após o término do conflito, das quais pouco se fala. Livros como esse nos ajudam a lembrar e a refletir sobre nossas ações, nos tornam melhores, mais humildes, mais humanos! Um livro lindo sobre uma vitória solitária em deserto de derrotas, um livro para ser lido!

Autor: Antonio G. Iturbe
Livro: A Bibliotecária de Auschwitz (La Bibliotecaria de Auschwitz)
Editora: Agir (Editorial Planeta)
Ano: 2014 (2012)
Páginas: 368







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