O Uruguai é um pequeno pedaço de terra ao Sul do nosso país
com aproximadamente 180 mil Km² e menos de 3.5 milhões de habitantes. Lembrado
pelos brasileiros somente na copa do mundo devido a seus dois títulos mundiais
e a famosa camisa celeste, o Uruguai é muito mais do que isso.
Com o 3° IDH das Américas reconhecidamente o país menos
corrupto da America latina, uma dos maiores colaboradores em missões de paz da
ONU e uma das maiores economias do continente, o Uruguai é considerado por
alguns um verdadeiro fenômeno. Além do sucesso como Estado, o país consegue
produzir grandes figuras em diversas áreas de atuação humana e uma dessas áreas de sucesso é a literatura. Com grandes nomes mundialmente conhecidos e novos autores
recebendo reconhecimento internacional, o Uruguai esbanja talento na arte das letras.
Vamos conferir alguns dos principais autores do país.
Esse simpático senhor da foto é um dos maiores escritores
uruguaios mudialmente reconhecido. Nascido em 1920, veio a felecer em Maio de
2009 sem nunca parar de escrever, deixando inclusive um trabalho inacabado
mesmo com seus 88 anos e diversas complicações de saúde.
Detentor de diversos prêmios mundo afora, sendo um deles
na Bulgária, Benedetti teve suas obras traduzidas para mais de 20 líguas sendo
váris delas lançadas no Brasil em português.
Pertencente a geração de 45, consdierada o ápice da
inteligentsia uruguaia, Benedetti é um ícone que ao lado de Quiroga(vide abaixo)
faz parte de uma gama de leituras obrigatórias para quem quer conhecer a
literatura de seu país. Curta o pequeno poema abaixo e se tiver interesse na
obra do autor sugiro começar por A Trégua.
El infinito
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O Infinito
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De un tiempo a esta parte
el infinito
se ha encogido
peligrosamente.
Quién iba a suponer
que segundo a segundo
cada migaja
de su pan sin límites
iba así a despeñarse
como canto rodado
en el abismo.
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De uns tempos pra cá
o infinito
tem encolhido
perigosamente.
Quem podería supor
que segundo a segundo
cada migalha
de seu pão ilimitado
iria assim despencar
como um pedregulho
no abismo.
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Outras Obras: El
reportaje ( 1958); Ida y vuelta (1963); Pedro y el Capitán (1979); Esta Manhã e
Outros Contos (1949); Quem De Nós (1953); A Trégua (1960); A Borra do Café
(1992); Recuerdos olvidados (1988); El porvenir de mi pasado (2003); E dezenas
de poesias e ensaios.
Famoso contista uruguaio se consagrou com Contos de Amor,
Loucura e Morte na qual se encontra o célebre conto A Galinha Degolada. Seus
contos geralmente tratavam de eventos fantásticos e macabros na linha de Edgar
Allan Poe e de temas relacionados à selva, sobretudo da região de Misiones, na
Argentina, onde passou parte da vida. Sua vida foi bastante atribulada: a morte
do pai quando ele tinha 4 anos,o suicídio do padrasto,a morte do melhor amigo
com um tiro acidental disparado por ele,o suicídio da esposa e de seus 3
filhos. Sua obra mais famosa são os Cuentos de amor de locura y de muerte (1917).
Em 1937, após ter sido diagnosticado com câncer, Quiroga cometeu suicídio,
ingerindo uma dose letal de cianureto.
Trecho
de À Deriva
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“Chegou
finalmente ao rancho, e abraçou a roda do moinho. O dois pontinhos violeta
desapareciam agora na monstruosa inchação do pé inteiro. Parecia-lhe
enfraquecida, e a ponto de ceder, de tão tensa. O homem quis chamar sua
mulher, mas sua voz se quebrou num grunhido rouco de garganta ressecada. A
sede o devorava.
__ Dorotea! –
conseguiu lançar um grito. – Me dá cachaça!
Sua mulher
correu com um copo cheio, que o homem sorveu de três tragos. Porém não havia
sentido gosto algum.
__ Te pedi
cachaça, não água! – rugiu de novo. – Quero cachaça!
__ Mas é
cachaça, Paulino! – protestou a mulher, espantada.
__ Não, me deste
água! Quero cachaça, te digo!
A mulher correu
outra vez, voltando com o garrafão. O homem bebeu um atrás do outro três
copos, porém não sentiu nada na garganta.
__ Bom, isto
está feio... – murmurou então, olhando seu pé lívido e já com um brilho
gangrenoso. Sobre a intensa atadura do lenço, a carne transbordava como uma
pavorosa morcela.
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Outras Obras: Historia
de un amor turbio (1908); Cuentos de la selva (1918); El desierto (1924); La
gallina degollada y otros cuentos (1925); Los desterrados (1926); Pasado amor
(1929); Suelo natal (1931); Más allá (1935).
Romancista e contista, o autor publicou em sua carreira
mais de 15 obras. Embora não tenha
chegado a completar o ensino secundário, Onetti apresenta em toda sua obra uma
estrutura original, inovadora, que rende a ele o Prêmio Cervantes de literatura
do ano de 1980.
Além do reconhecimento institucional, Onetti gozava de
largo prestígio entre os escritores latino-americanos, como Gabriel García
Márquez (de quem herdou boa parte da estrutura narrativa), Juan José Saer.
Julio Cortázar, escritor e amigo, sobre ele constumava dizer: "el más
grande novelista latinamericano" (o maior romancista latino-americano).
Trecho de Vida Breve
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"Descobrimos que a vida está
cheia, e não é de hoje, de mal-entendidos. Gertrudis, meu trabalho, minha
amizade com Stein, a sensação que tenho de mim mesmo, mal-entendidos. Fora
isso, nada; de vez em quando, algumas oportunidades de esquecimento, alguns
prazeres que chegam e passam envenenados. Talvez todo tipo de existência que
eu possa imaginar deva transformar-se num mal-entendido. Talvez, pouco
importa. Entretanto, sou este homem pequeno e tímido, imutável, casado com a
única mulher que seduzi ou que me seduziu, incapaz, não mais de ser outro,
mas da própria vontade de ser outro."
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Outras Obras: El
pozo(1939); Terra de Ninguém(1941) Para esta Noite(1943); A Vida Breve(1950); Os adeuses(1954); Para
Uma Tumba Sem Nome(1959); A Cara da Desgraça(1960); O Estaleiro(1961); O
Inferno Tão Temido e Outros Contos(1962); Juntacadáveres(1964); A Morte e a
Menina(1973); Tempo de Abraçar(1974); Deixemos Falar Ao Vento(1979); Presença e
outros contos(1986); Quando Então(1987); Quando já não Importa(1993).
Se o ‘ser’ escritor é escrever, então Galeano é de fato
um escritor. O autor tem mais de 30 livros publicados e continua na ativa mesmo
com seus 73 anos completos.
Jornalista e militante, sua obra mais famosa é As Veias
Abertas da América Latina, onde analisa sua história desde o período colonial
até o contemporâneo. O livro praticamente se tornou o exemplar de cabeceira de
toda a esquerda latina. Outra obra digna
de nota é a trilogia Memória de Fogo.
Trecho do Livro dos Abraços
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“Os funcionários
não funcionam.
Os políticos
falam mas não dizem.
Os votantes
votam mas não escolhem.
Os meios de
informação desinformam.
Os centros de
ensino ensinam a ignorar.
Os juízes
condenam as vítimas.
Os militares
estão em guerras contra seus compatriotas.
Os policiais não
combatem os crimes, porque estão ocupados cometendo-os.
As bancarrotas
são socializadas, os lucros são privatizados.
O dinheiro é
mais livre que as pessoas.
As pessoas estão
a serviço das coisas.”
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Outras Obras: Los días siguientes (1963); Su majestad el
fútbol (1968); As veias abertas da América Latina (1971); Violencía y
enajenación (1971); Crónicas latinoamericanas (1972); Memória do fogo -
trilogia - (1982-1986); O Livro dos Abraços (1989); Nós Dizemos Não (1989);
América Latina para entenderte mejor (1990); O futebol ao sol e à sombra
(1995); Mulheres (1997); Patas arriba: la escuela del mundo al revés (1998); O
Teatro do Bem e do Mal (2002); Espelhos. Uma história quase universal (2008);
Os Filhos dos Dias (2012).
Seus três primeiros livros, de estilo modernista, foram o
poemário Las lenguas de diamante (1919), a coleção de prosa poética El cántaro
fresco (1920) e o poemário Raíz salvaje (1922). Tiveram repercussão
internacional e foram traduzidos para diversas línguas.
A originalidade de seu estilo consistiu em unir o rico
cromatismo com imagens modernistas, dando-lhe um sentido otimista da vida, com
uma linguagem sensível, sem complexidades concetuais, que redunda em uma
expressividade fresca e natural. A partir de então, publicou mais de trinta
livros, a maioria coleções de poesias, embora tenha escrito também memórias de
sua infância Chico Carlo (1944) e um livro infantil.
Faleceu em Montevidéu, aos oitenta e sete anos de idade.
La Pequeña Llama
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A Pequena Chama
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Yo siento por la luz un amor de salvaje.
Cada pequeña llama me encanta y sobrecoge;
¿no será, cada lumbre, un cáliz que recoge
el calor de las almas que pasan en su viaje?
Hay unas pequeñitas, azules, temblorosas,
lo mismo que las almas taciturnas y buenas.
Hay otras casi blancas: fulgores de azucenas.
Hay otras casi rojas: espíritus de rosas.
Yo respeto y adoro la luz como si fuera
una cosa que vive, que siente, que medita,
un ser que nos contempla transformado en hoguera.
Así, cuando yo muera, he de ser a tu lado
una pequeña llama de dulzura infinita
para tus largas noches de amante desolado.
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Eu sinto pela luz um
amor de selvagem.
Cada pequena chama me encanta e surpreende.
Não será cada lume um
cálice que prende
O calor das almas que
passam em sua viagem?
São pequenas algumas,
azuis, cautelosas,
tais como as boas almas,
graves e serenas;
outras, quase brancas,
fulgores de açucenas;
outras quase rubras:
espíritos de rosas.
Respeito e adoro a luz e
assim a tenho amado
como coisa que vive e
sente e que medita;
um ser que nos contempla
em foto transformado.
Assim, quando eu morrer,
hei de ser ao teu lado
uma pequena chama, em
doçura infinita,
pra tuas longas noites
de amado desolado.
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Outras Obras: Las
lenguas de diamante(1919); Raíz salvaje(1922); La rosa de los vientos(1930) Perdida(1950)
Azor(1953); Mensaje del escriba(1953); Romances del Destino(1955); Angor
Dei(1967) Elegía(1968).
Há diversos outros nomes que você pode pesquisar
inclusive autores contemporâneos e atuais. Recomendo muito que caso se interessem,
procurem conhecer Inês Bortagaray que recentemente lançou um livro em português
pela Cosac Naify, vale muito a pena!
Além de bortagaray, são indicações do blog: Carmem
Posadas; Juan San Martin; Antonio Larreta; Jorge Majfud e Carlos Rehermann.
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